domingo, 20 de junho de 2010


O MAGO


O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai – assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito.  (Jo 3,8)


Encontramos na figura do mago, no tarô de Marselha um jovem de pé, atrás de uma mesa com pequenos objetos, três moedas de amarelas, talvez, mais duas vermelhas, uma adaga, um suporte para guardá-la e uma bolsa. Seu olhar parece perde-se, e como se ele estivesse olhando para o nada. Em sua mão esquerda uma varinha e na direita uma moeda, onde seu movimento não requer nenhum esforço.
Segundo algumas interpretações, principalmente nas “Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores”, de autor desconhecido, o mago seria a primeira carta dos arcanos, representando assim o guia espiritual do jogo, a autor nos fala de uma certa concentração sem esforço por parte dessa figura, que representa justamente uma concentração que distancia das paixões e do apego. O autor nos fornece um exemplo interessante, que seria a do equilibrista na corda bamba, esse não pode de maneira alguma raciocinar sua atividade, caso contrário ele cai por terra, ele possui na verdade, outro tipo de inteligência, esse exemplo nos aproxima da carta do mago.
O mago possui dentro de si a calma perfeita, age com despreocupação com as coisas e transforma todo o trabalho em jogo, em um sentido lúdico, enfim é um brincante. Seu silêncio é profundo e verdadeiro e está, de certa maneira ligado ao nosso inconsciente.
No tarot mitológico ele representa o deus Hermes, o mensageiro, que aparece nas horas difíceis para tentar resolver problemas mais agravados. Quando esta carta surge em um jogo, é sinal de que alguma surpresa virá, isto significa, que sua visita é certa.

Que venha o mago!

sábado, 19 de junho de 2010

Nature by Numbers

A fruta aberta
Thiago de Mello

Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.


Agora sei as coisa como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.


Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com  tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.


Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.
(Sobrevoando a Cordilheira dos Andes, 1962)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Ouve o canto dos pássaros na noite eterna iluminada pelas estrelas, saudando a amor divino que contempla sob a relva molhada da chuva passada.